quinta-feira, 25 de abril de 2013

Faísca de vida



Não havia lusco-fusco
Não havia agitação
Não havia noite

Só havia o cinza
E uma segunda feira mal sucedida

Os faróis não funcionavam
Os mortos não ressuscitaram
Nem o mundo acabou

Nada aconteceu
O tempo não parou de repente

Nem uma faísca de verdade
Acendeu um pingo de vida
No meio de tanta angústia

E só havia o tédio
Imperioso, como um sonho torpe de um velho rei moribundo

terça-feira, 23 de abril de 2013

Morte



Quando eu morrer
Não vá ao enterro
Dê uma daquelas desculpas,
Diga que não se sente bem

Quando eu morrer
Não quero que chore
Ou que comemore
Diante de um cadáver gelado

Quando eu morrer
Não diga: - Eu avisei
Ou simplesmente pense
Que tudo tem uma hora para acontecer

Quando eu morrer
Eu quero o silêncio, o esquecimento
Pois é só na brutalidade da quietude
Que verdadeiramente os mortos tornam-se imortais

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Soneto aos amigos

Alegro-me em dizer em alto som:
não somos como os heróis perdidos,
sem pátria, bandeira para descanso,
ou porto seguro para os nossos sonhos

Digo-lhe com todas as vogais
que julgam as minhas ações
A amizade que aqui professo
durará por eternas gerações

Amigos do norte, do sul
deixo-lhes um pedaço de mim
para que ganhe um de vós

Nossos laços anímicos
por eras percorrerão a Terra
para dizer-lhe: amigo

(do livro Cores primárias)

domingo, 21 de abril de 2013

Resumo

Não havia lusco-fusco
Não havia agitação
Não havia noite

Só havia o cinza

E uma segunda feira mal sucedida

sábado, 20 de abril de 2013

Brisa do verão

Eu contaria os segundos longe de você em intervalos de dez
Para que antes da primeira dezena já sentisse o tempo sem você.

Se pudesse, faria coisas que jamais fiz, seria um pouco piegas talvez,  brindar-te ia a cada pingo de chuva ou contaria as nuvens do céu até o fim.

Iria morar no campo, mudar de nome, preparar o jantar.
Teria os defeitos que ele tem e vestiria aquela camisa que você gosta, seria ciumento, careta ou até mesmo te serviria o café.

Ousaria dizer eu te amo ou desligar o celular. Seria vegetariano ou até mudaria para o Japão, tentaria ser um herói, ou um vilão se quisesse assim.

Escreveria uma carta por dia para alguém que não conheço.
Talvez ficasse sem fôlego de tanto correr em volta da sua casa. Faria um origami, uma música ou quem sabe te servir o almoço.

Teria pudor de cantar no chuveiro e não teria de assoviar o nosso som. Leria todos os livros de psicologia para tentar te entender, faria uma poesia, um ensaio, ou publicaria um livro sobre nós dois.

Levaria o cachorro para passear, a criança na escola, viajaria até a Irlanda. Iria compor uma musica ou uma serenata para os mendigos da rua, sairia na pista do carnaval ou de papai noel no natal.

Para que quando o tempo levar as flores para dentro do caixão, ninguém se arrependa de nada, então, nem das ondas do mar, nem da brisa do verão.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Noite...

Ela só quer que o whisky esquente
E que todas as lágrimas cessem
Diluídas em sal e saliva
Num alvorecer prematuro e inconcebível

Dane-se o vinho
As coisas bonitas
Os animais

Enquanto a madrugada avança
Lenta
Todos se enganam e desenganam
Cheios de soberba e confusão

Enquanto o sol não vem
E a luz não se abre
Zelo por seu sono em prece
Não vejo forma mais pura e sublime de afeto

(Poema inédito)

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Sem título

Soube que meu avô morreu…
Eu não tive tempo de enterrá-lo

Meu amor também morreu,
mas eu não tive coragem de cremá-lo

Meus amigos também morreram, um a um…
E eu não tive forças para atirá-los ao Ganges

Logo depois eu morri
E comigo foi-se toda a vontade de viver

(Poema inédito)

Para os marginais


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Marginal

Seja marginal
Seja herói
Tire as pedras de gelo
Beba a vida à Caubói

Mimeografe pensamentos
imprima ideias
escreva gritos
Sejas maldito

Espere pelo poema certo
Escreva os errados pelo caminho
Pois o que passou passou
Saiu voando e virou passarinho

Ais e cais!



Uma pequena seleção de fragmentos que nunca serão maiores do que fragmentos.

I
Já disse: estou farto
De olhares e beijos
Com tanto abraço

II
Chegou a chuva
Á tapa de pelica
e pingo de luva

III
Tem chourisso?
Mesmo na alma
Joga no lixo!

IV
Lá vem a fragata
com espadas nos dentes
E sorrisos piratas

V
Ai! Cai!
Cais e mais
Haicai




terça-feira, 16 de abril de 2013

Distração


Êta domingo pequeno,
sereno, veneno em meus dias lá atrás

Outro dia quente,
demente, estridente, acabando com a minha paz

Sabe-se lá o que se passa aos domingos

Quando se percebe o atrito
de que tudo é um tanto finito
Como todo sábio tem seu rito
e o sonho logo se torna um mito

Apenas...

Tudo poderia ser como sábado, quinta ou sexta-feira
Por muito menos seria aquela segunda

Defunta,
profunda,
cansada
e sem atenção

Em que tudo aquilo não acontece
E que viver é uma mera distração

(Poema do livro Cores primárias, com lançamento previsto para maio de 2013)

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Elipse

Ela estava ali parada.
Lá ela permaneceu.
Passaram-se meses,
ela não se mexeu.

Parada ficou
sem susto
nem surpresa
quase estrela

Num corte assim
Meio assado
com o peito doendo
e o coração machucado