sexta-feira, 24 de maio de 2013

A crônica do domingo nublado



Num domingo nublado, a fé embala o sol entre as nuvens e cinzas.

 A fumaça do cigarro sobe lentamente e a fuligem flutua no caminho do velho cinzeiro de madeira.

Os acordes soltos do velho violão, a música que nunca chega ao fim e o livro que você nunca consegue escrever...

Entre os dias e as noites, o claro e o escuro, os minutos e os séculos, está um pouco de vida, um pouco de boa sorte e um pouco sol, mesmo na tarde nublada, na noite estrelada e na vida desenfreada...

As velhas idéias e os novos ideais. Plantar uma árvore, ter um filho, escrever um livro, compor uma canção. Seria melhor adiar o inevitável?

Acho que é por isso que acordamos nas manhãs de domingo, chuvoso ou ensolarado. É por isso que estamos aqui neste domingo nublado.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Música


Danço ao passo lento, tímido
como sempre costumo fazer
Sigo só, eu e meu compasso
mesmo que desajeitado,
sem nada a dizer

Seguem-se tangos amorosos,
sambas que nos envolvem
marchinhas velhas, saudosas
e na tua indiferença,
as letras se dissolvem

Vou perdendo a razão
estrago todas as rimas
sujo sem dó cada estrofe
e acabo com toda a melodia

Nossas músicas são inversas
sem harmonia, união
o seu jazz americano
destrói o samba do meu coração

Aumento o som, esbravejo, grito
somo um terceiro refrão
Mesmo assim tu não me olhas,
pois já está em outra canção

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Ao Viajante


Divido-me em pedaços
esfarelados em fragmentos perdidos
recolho o viver estilhaçado
sobram-me alguns velhos resquícios

Queira Deus e um dia ainda espero
pintar o céu de vermelho ou amarelo
criar vida em tacho de marmelo
ruir muros, mover castelos

Reflito por um breve momento

Logo tudo pode ter sido em vão
olhos fechados, joelhos dobrados
Uma prece, uma oração
Sangram-me os olhos, ouço a razão

Grito, insulto e mordo. Haverá uma opção

Um pouco de vida um pouco de morte
segue o caminho, ruma para o norte

Desde que cheguei aqui
enfrento este dilema profundo:
A cada instante mais longe da vida
e na mesma medida perto de virar defunto



É fato, é fio, é pavio
(Aceso ou no escuro)

É mudança, infância, fiança
(Sua cabeça aberta e cheia de esperança)

É o caminho, colírio, canastra
(Joga tudo que tiver em aposta máxima)

É o feijão, o arroz, a saliva
(Pois somente se pisa nesse chão uma vez na vida)

Até logo, vou-me embora
sigo aquela estrada estreita
Que o caos lhe acompanhe
e que mantenha a mente sempre acesa

terça-feira, 21 de maio de 2013

Ratos



Escrevo este poema aos ratos!
Aqueles que reviram as latas de lixo
e apavoram as donas de casa
com um simples sorriso

Estes versos também servem para os canalhas
roedores fardados, uniformizados, etiquetados
Metamorfoseando-se diariamente na sujeira
e transformando-se em ratos

Dedico também aos miseráveis,
amontoados e irracionais,
brigando por comida numa montanha de lixo
logo, tornam-se ratos

Mas este poema é essencialmente
dedicado a aqueles que se despem
e encaram o mundo como animais,
livres, assim como o dia vindouro

Como ratos

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Metafísica



Não quero que me beije com paixão
Nem que me abrace com ternura
Não quero tua compaixão modesta
Também não quero segredos, juras

Não desejo sua atenção
Nem que me pegue pela mão
Muito menos suspire por uma distração

Não me dê um presente
Não me conte do teu dia
Não me envolva em seus braços
Não me olhe taciturnamente
Não me chame para ir ao cinema
Não me dê uma dúzia de descendentes

Só quero que me ame
Como se tudo fosse acabar aqui
Com todas as suas forças, peço que me ame
Pois o seu amor já me basta para uma vida inteira